Amazônia- 'A COISA TÁ FEIA' ENTRE BRANCOS E ÍNDIOS TENHARIM NO SUL DO AMAZONAS

Aumenta conflito entre brancos e índios Tenharim no sul do Amazonas

indígenas Tenharim

Um conflito entre brancos e índios, na localidade de Humaitá, no sul do Estado do Amazonas, poderá ganhar intensidade nos próximos dias.

Alegando que não têm meios para sobreviver e que o governo federal não envia representantes para conversar com as etnias locais, os índios Tenharim instituíram a cobrança de pedágio junto à Rodovia Transamazônica. A reação dos brancos foi imediata, e alguns grupos promoveram no dia 26 de dezembro a destruição de vários postos de atendimento oficial aos indígenas.
Os conflitos se seguiram ao desaparecimento de três pessoas brancas em 16 de dezembro. Em razão das buscas pelos desaparecidos, os índios resolveram dar uma trégua na cobrança do pedágio. Porém, na semana passada, os índios Tenharim prometeram voltar a cobrar a tarifa para a passagem de veículos e marcaram a data: 1º de fevereiro. Segundo os indígenas, a cobrança será feita apesar das ameaças que estão recebendo de sofrer novos ataques.
A decisão dos índios foi anunciada na segunda-feira, 6 de janeiro, numa reunião na aldeia dos Tenharim que contou com a presença de lideranças indígenas e de dois generais do Exército, o Comandante da 17ª Brigada de Porto Velho, Ubiratan Poty, e o Comandante Militar da Amazônia, Eduardo Villas Bôas. Este último chegou a pedir aos índios o fim da cobrança do pedágio, visando a pacificar a região de Humaitá.
Além de terem se negado a atender ao apelo do General Eduardo Villas Bôas, os caciques Tenharim prometeram estourar as pontes e isolar a reserva caso haja novo ataque dos brancos. Eles disseram, inclusive, saber que o novo ataque poderá acontecer nesta terça-feira, 14 de janeiro.
Em nome da tribo, o Cacique Aurélio Tenharim disse que o pedágio vai continuar, independentemente dos protestos de algumas pessoas, e confirmou que a cobrança só foi interrompida para não atrapalhar os trabalhos da força-tarefa que está em busca dos desaparecidos. Segundo Aurélio, o pedágio é uma compensação pela construção da Rodovia Transamazônica na terra indígena, operação que teria causado a morte de muitos índios. Ele disse que a tribo esperou quatro anos para negociar, e nenhum governo apareceu.
Além dos Generais Eduardo Villas Bôas e Ubiratan Poty, participaram da reunião com os índios representantes do Ministério Público Estadual do Amazonas, dos comandos da Força Nacional de Segurança e da Polícia Rodoviária Federal.
Os índios mantêm a argumentação de que o pedágio é a principal fonte de renda das aldeias, e por isso vai continuar. Um outro cacique, Zelito Tenharim, disse que o Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente não permite aos índios caçar, plantar nem cortar madeira para fazer as suas peças de artesanato. Sem meios para assegurar a sobrevivência, os Tenharim decidiram instituir a cobrança do pedágio.
Os caciques das etnias Tenharim e Jiajoy prometeram colaborar com as investigações sobre o desaparecimento dos três homens brancos, no dia 16 de dezembro, no trecho da Transamazônica que corta a reserva. O episódio causou uma onda de revolta em Humaitá, no dia de Natal, em que uma multidão destruiu a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) e outras bases indígenas na cidade. As famílias acusam os índios, que permanecem isolados na reserva, mas os indígenas negam. Em documento entregue aos militares, os oito líderes pediram a segurança do Exército nos limites da reserva e também para os índios que estudam e trabalham na cidade. 
Os índios pediram ainda um plano emergencial para atendimento em saúde, além de suprimentos de alimentos. Eles também querem que o governo marque, com a maior urgência, uma reunião em Brasília para discutir todos estes assuntos.
A Transamazônica, Rodovia BR 230 e pivô da reclamação dos índios Tenharim, é uma estrada projetada durante o mandato do Presidente Emílio Garrastazu Médici, entre os anos de 1969 e 1974. Inaugurada em 27 de agosto de 1972, tem 4.223 quilômetros de extensão, desde Cabedelo, na Paraíba, até a cidade de Lábrea, no Estado do Amazonas. O trajeto da Transamazônica passa por sete Estados: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas. Em grande parte deste trajeto, principalmente no Pará e no Amazonas, a estrada ainda não é asfaltada.
Share on Google Plus

About Pedro Fernandes

This is a short description in the author block about the author. You edit it by entering text in the "Biographical Info" field in the user admin panel.

0 comentários:

Postar um comentário

Quando alguém tem caráter, personalidade e confia no que está dizendo, não precisa se esconder no anonimato.