Comportamento- Perfis de adolescentes que fazem os 'rolezinhos'






Comportamento- Perfis de adolescentes que fazem os 'rolezinhos'

Tatiana Santiago, Márcio Pinho e Letícia Macedo Do G1 São Paulo
Vinicius, que afirma postar trechos de músicas para conquistar as garotas no Facebook e que participou de "rolezinho" neste domingo (19) em Guarulhos  (Foto:  Guilherme Zauith/G1)Vinicius, que afirma postar trechos de músicas para conquistar as garotas no Facebook e que participou de "rolezinho" neste domingo (19) em Guarulhos (Foto: Guilherme Zauith/G1)
Vivendo em dois pontos quase extremos da Grande São Paulo, o praticante de Muay Thai Vinicius Centurian, de 19 anos, e a adolescente Erika Santana, que aos 14 anos sonha em ser uma psicóloga, têm um gosto comum. Eles frequentam os “rolezinhos” em shoppings e parques da Grande São Paulo e falaram ao G1 o que acontece nesses encontros, roupas usadas, músicas preferidas, paqueras e suas opiniões sobre as liminares obtidas pelos shoppings para barrar os encontros.
Erika no rolezinho de sábado (18) no Parque Ibirapuera (Foto: Vagner Campos/G1)Erika no rolezinho de sábado (18) no Parque
Ibirapuera (Foto: Vagner Campos/G1)
Perfil
Erika
Erika Kawanne Santana é estudante do 1º ano do ensino médio e mora no Jardim Novo Oriente, na Zona Sul de São Paulo. Seu principal hobby é sair com os amigos, quase sempre no Shopping Campo Limpo, onde já participou de um "rolezinho". Planeja cursar uma faculdade. “Ainda estou um pouco indecisa, mas gostaria de fazer psicologia”, disse. A adolescente não tem namorado e neste sábado (18) foi ao "rolezinho" do Parque Ibirapuera.
Vinicius
Trabalha como ajudante geral em uma metalúrgica e mora no Jardim Munhoz,  em Guarulhos, na Grande São Paulo. Gosta de lutar Muay Thai três vezes por semana, joga futebol e vai a bailes funk. Está sem namorada há um mês e meio, mas já está azarando algumas meninas no Facebook. “Por enquanto, estou só no investimento”, diz. “Imagino ter meu emprego fixo, meu carro, minha casa própria, ter uma vida normal”, diz ele, sobre planos para o futuro. Quer ser professor de educação física ou dar aulas de Muay Thai. Vinicius esteve no "rolezinho do Bosque Maia" neste domingo (19), em Guarulhos.
Roupa
Erika
“Não ligo para usar roupa de marca não. O importante é a combinação ficar boa”, afirmou a estudante. No "rolezinho " do Parque Ibirapuera ela usava um vestido azul e sandálias, opção comum entra as garotas nos encontros, assim como as sandálias "gladiadoras". Outra combinação de que Erika gosta é calça jeans e tênis.
Vinicius
“Eu gosto de usar roupas de marca, costumo comprar a cada dois meses alguma peça no shopping ou na Galeria do Rock”, disse. Entre as marcas preferidas estão Abercrombie, Hollister, Nike e Mizuno. Gasta cerca de R$ 500 por mês com roupas e acessórios de marca, cerca de 40% do seu salário. Mora com a mãe e três irmãos em casa própria, mas ajuda com as despesas. "Não nasci em berço de ouro não”, diz.
Música
Erika
Os participantes dos “rolezinhos” nos shoppings de São Paulo são normalmente associados ao funk. Erika é diferente e prefere o rap. A música predileta é "Padre Nuestro", do grupo Trilha Sonora do Gueto. Os versos ela sabe de cabeça. “Cê me conhece? Não. Então vai segurando. Aqui o vida loca original que tá falando. Dois Zero Zero Oito. E o gueto continua com a corda no pescoço”, diz a música que toca no celular da adolescente.
Vinícius
Seu funk preferido é do Mc Daleste, “Todas quebradas parte 3”. A música fala “Iluminada por Deus seja a minha quebrada, minha voz rola pelo ar, pelo ar. Fortaleço quem me fortalece, de igual pra igual, nós que tah”.
“Mc Daleste foi um cara em que me inspirei, ele morava aqui perto, sempre trombava ele nos 'roles', o cara era humilde”
Entenda os rolezinhos - cronologia e proibição 2 (Foto: Arte/G1)Entenda os rolezinhos - cronologia e proibição 2 (Foto: Arte/G1)
Rede social
Erika
Gosta de postar principalmente fotos de quando sai com os amigos. Um de seus ídolos na rede é Vinícius Andrade, jovem que se destacou criando vídeos, divulgando os rolezinhos e que já é seguido por 84 mil pessoas. Erika diz que seria “legal” ser tão popular quanto Vinícius e lamentou não ter encontrado o rapaz no "rolezinho" do Ibirapuera. A estudante não tem interesse em outras redes sociais, como o Twitter.
Vinícius
“Gosto de postar as coisas para as meninas”, diz. “Eu posto: ‘As minas que vai ficar em casa é pra casar’, aí as meninas curtem, gostam, dá mais de 60 curtidas”, falou o jovem. Para conquistar as “minas”, como costuma dizer, Vinicius também posta trechos de músicas românticas, como as do sertanejo Lucas Lucco. Vinicius possui atualmente 2.747 amigos no Facebook e 1.859 seguidores. Já ficou com algumas garotas que curtiram seus comentários.
Turma
Erika
O “bonde”, como diz Erika, é formado por vários amigos. Mas duas das principais parceiras são Stefanie Vitória, sua prima, e a amiga Fernanda Alves, que gostam mais de funk do que de rap, ritmo preferido por Erika. Às vezes cantam para se divertir quando passeiam. Suas amigas também são fãs de Vinícius Andrade. O local que as três mais visitam é o Shopping Campo Limpo, o único ponto de lazer na região, segundo a estudante.
Vinícius
“[No Face] vou ganhando amigos conforme as coisas que vou postando”, disse sobre seu círculo social. Amigos fiéis e que estão sempre ao seu lado são de infância, que moram no mesmo bairro. Do grupo de dez amigos, a maioria trabalha ou estuda. Outras amizades foram feitas em “rolezinhos” e baladas. Apesar de gostar de comer Big Mac, no Mc Donald’s, no último “rolezinho” no shopping só tomou chopes com os amigos. Na data não chegou a olhar as lojas, só tinha olhos para as meninas.
Quando estou focado em uma menina costumo chegar com um objetivo, costumo atrair mais com carinho, mais romântico"
Vinicius Centurion
Paquera
Erika
Segundo Erika, são as próprias meninas que acabam puxando assunto. “Os meninos são meio desligados" diz. Há várias táticas para chamar a atenção de um menino "bonitinho", como passar na frente dele. Entre os garotos, há os que puxam assuntos interessantes e os chatos. O pior xaveco que já ouviu foi uma comparação com um avião. O gracejo era: "Seu pai trabalha no aeroporto? Porque você é um avião", disse o pretendente.
Vinícius
No último “rolezinho” que participou no Shopping Internacional de Guarulhos "pegou" duas meninas, conta “Eu não azarei ninguém não, elas que me azararam”, disse tímido. Quando está interessado em alguém, costuma xavecar. “Quando estou focado em uma menina costumo chegar com um objetivo, costumo atrair mais com carinho, mais romântico”, conta. “Falo que gostei do sorriso dela, do jeito de olhar, são essas coisas simples que elas gostam de ouvir. Sempre ganho pelos olhares, aquele olharzinho 43 do Neymar”.
Polêmica dos “rolezinhos”
Erika
Ela vê dois lados na questão. Diz que ouviu dizer que os shoppings não deixariam pessoas mais pobres entrar. “A população que mais frequenta os shoppings que eu vou é classe C, classe média e classe média baixa. Os shoppings vão sair perdendo”, afirma.
A população que mais frequenta os shoppings que eu vou é classe C, classe média e classe média baixa. Os shoppings vão sair perdendo", disse sobre as liminares proibindo os "rolezinhos"
Erika Kawanne Santana
Ela é contra pessoas serem barradas na porta. “Não podem simplesmente fechar as portas para a gente”, afirma. Erika conta que foi barrada na entrada do Shopping Campo Limpo no dia em que estava marcado um "rolezinho". Sua amiga foi abordada por um segurança, que teria dito que não podia entrar "quem estava de “rolezinho". Ela critica a postura do shopping, que tinha uma liminar para impedir o "rolezinho".
Erika afirma que alguns jovens exageram e prejudicam o resto. E usa a palavra "arrastão" para definir o que já aconteceu em alguns shoppings. “Isso ainda vai acabar mal. Há pessoas que não respeitam”, diz.
Vinícius
Em relação à decisão de alguns shoppings de ir à Justiça, o jovem diz que concorda parcialmente. “Em parte sim, porque é prejuízo para os donos se forem uns vândalos lá”[...] “Eu acho que deve ter mais policiamento para fazer a segurança de todos”, ressaltou.
Ele diz ser favorável ao uso de outros espaços, como parques. “Em shopping acho que não deveria ter “rolezinho” não, é lugar de você comprar, levar a namorada. É legar ter uns “rolezinhos” no shopping, mas do jeito que foi, com muita gente e arrastão, é melhor não ter não”, afirmou.
Sobre a PM, ele afirmou que a ação foi "fora do comum". “Acho que não precisa ser assim também”, disse. A Polícia Militar reagiu com bombas de gás e balas de borracha a um tumulto ocorrido em rolezinho do Shopping Metrô Itaquera neste mês. Em relação aos furtos e roubos, ele diz que não concorda e não participa. “Sempre tem aquele pessoal que aproveita da situação, a grande maioria não participa” , afirmou.

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About Pedro Fernandes

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