Belém/pa- GOVERNO JATENE É CAMPEÃO DE INSEGURANÇA PÚBLICA



Paraenses contam como é conviver com a sensação de insegurança

Pará apresenta menores índices de sensação de segurança, afirma IBGE.
Moradores do estado procuram alternativas para se proteger da violência.

Luana Laboissiere Do G1 PA
Muros altos, grades em todas as janelas, seis pesadas trancas nas portas e portão de entrada da casa em chapa de ferro, sem vista para a rua. É nessa verdadeira “fortaleza” que o contabilista Carlos Edilson Melo, de 47 anos, mora com a família em uma casa localizada no bairro do Condor, em Belém.
Insegurança Belém Pará Casa Dados IBGE (Foto: Ary Souza/O Liberal)Colocar grades nas casas é uma das alternativas
encontradas pela população para se proteger da
violência (Foto: Ary Souza/O Liberal)
“Acho que hoje ninguém está seguro em lugar nenhum. É ilusão, de certa maneira, achar que morando em um apartamento, em um condomínio fechado, você vai estar livre da violência. Pode até dificultar a ação dos bandidos, mas impedir, realmente, não vai. Então cada um faz as adaptações dentro da própria casa pra conseguir conviver com isso e não entrar na paranoia, senão, enlouquece mesmo”, teoriza.
O contabilista conta que em maio de 2009, quando entrava com o carro na garagem da residência, no fim da tarde, foi abordado por três homens armados, que invadiram a casa. Edilson, uma prima e o filho adolescente ficaram por cerca de meia hora sob a mira dos revólveres enquanto o trio vasculhava os ambientes em busca de objetos de valor.
“Levaram nossos celulares, algum dinheiro, relógio e notebooks. Mas, pior que isso mesmo, é a sensação de impotência de você ver sua família ali sendo ameaçada, correndo risco de morrer e saber que o melhor que você pode fazer, é não fazer nada. E sim obedecer, colaborar, e desse jeito preservar o seu maior bem, a sua vida e a vida da sua família”, relembra.
A sensação de insegurança vivida por Edilson e sua família reflete os dados apontados pela pesquisa do IBGE divulgada nesta quarta-feira (28), que mostram que o Norte é a região com os menores índices de sensação de segurança no Brasil. Ainda de acordo com os números da Síntese de Indicadores Sociais 2012, no Norte, mais de 50% das pessoas não se sentem seguras em sua cidade e quase 30% se dizem inseguras em seu próprio domicílio.
Violência que adoeceVerdadeira doença que atinge a sociedade, a violência é apenas mais um dos fatores que geram estresse e que o homem moderno enfrenta em seu cotidiano, colaborando para a má qualidade da saúde mental da população.
Após experiências traumáticas, de menor ou maior gravidade, o corpo reage diante da intranquilidade, liberando no organismo altos níveis de adrenalina. Entre as vítimas da violência são comuns os relatos do coração batendo mais forte (taquicardia), a respiração ficando ofegante, as pupilas dilatando, e mesmo o suor intenso nas mãos.
“Nosso corpo recorre ao instinto mais primitivo, uma espécie de memória presente no nosso sistema reptílico, a parte mais ‘antiga’ do cérebro, para reagir diante daquela ameaça. Na pré-história, o homem recorria a esse instinto para sobreviver às condições adversas em que vivia: o ataque de feras, a necessidade de se alimentar. Hoje, o homem ainda busca nesse instinto primordial a sua sobrevivência, quando é assaltado, quando é confrontado, ou quando precisa lidar com situações que são difíceis para a maioria de nós.”, explica Ana Cristina Maués, psicóloga pós-graduada na área de saúde mental.
De acordo com a psicóloga, se a situação de sofrimento mental não for tratada com a devida atenção, pode evoluir para distúrbios mais complexos, como ansiedade, síndrome do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e depressão.
“Minha experiência como profissional me mostra cada vez mais que precisamos cuidar do sofrimento de quem é atingido pela violência e não só dos sintomas que ela provoca. Quem está nessa situação, precisa e deve procurar ajuda de profissionais como psicólogos e terapeutas na tentativa de lidar com essas questões, que muitas vezes têm raízes bem profundas. Em algumas situações, o episódio de violência acaba sendo apenas o gatilho que dispara uma situação maior. E dependendo da necessidade, do caso da pessoa em questão, recorre-se a profissionais especializados da psiquiatria, que trabalham com medicamentos que podem ser coadjuvantes nesse processo”, orienta.
Onde procurar apoioA coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Estado do Pará, Marilda Couto, afirma que a população pode contar com uma ampla rede de apoio em todo o estado, e que esse acesso é simples e gratuito.
“Em todo o Pará, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) contam com equipes de psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, psiquiatras e vários outros profissionais que estão aptos a fazer o acolhimento da pessoa em sofrimento mental, seja este causado pela violência ou outros fatores. Basta levar um documento de identidade com foto e um comprovante de residência para ser atendido.”, esclarece.
No estado, 65 casas de apoio, ou Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), prestam assistência à população e desenvolvem atividades individuais ou em grupo. Em Belém, nove casas de apoio estão distribuídas entre os bairros da capital, e uma delas é dedicada exclusivamente ao atendimento de crianças e adolescentes.
Os atendimentos acontecem de segunda à sexta, no horário de 8h às 17h. “Em um caso imprevisto, que ocorra em um feriado ou fim de semana, o Hospital de Clínicas Gaspar Viana recebe pacientes em caráter de plantão. Qualquer pessoa pode procurá-lo em uma situação de emergência emocional”, conclui a coordenadora.
O site do Ministério da Saúde disponibiliza uma relação com os endereços dos Centros de Atenção Psicossocial em todo o estado do Pará, com informações sobre endereços e telefones para contato.
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