Ecologia- PERIGOS REAIS E IMAGINÁRIOS DA AMAZÔNIA

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Por Silvio Marchini
A floresta amazônica está cercada de estórias e mitos no que se refere aos seus perigos. São cobras gigantescas, onças ferozes, índios cruéis e doenças arrepiantes. Tudo isso dá um tom de aventura à sua viagem, mas tem bem pouco a ver com a realidade.
Certamente existem perigos. Afinal, onde é que eles não existem? Mas para evitá-los, basta usar o bom senso. Siga sempre as recomendações de seu guia, nunca saia sozinho para caminhadas, não se aproxime de animais que você não conhece, e acima de tudo, informe-se. Tente aprender sobre os ambientes que você irá visitar. Leia. Faça perguntas. A informação lhe ajuda a evitar os perigos, assim como a desfrutar mais das belezas da floresta.
Segue uma breve descrição dos principais riscos envolvidos em sua viagem à Amazônia. Essa lista não foi feita para assustar, mas para informar. Estamos seguros de que após sua visita à Amazônia, as cobras gigantescas, as onças ferozes, os índios cruéis e as doenças arrepiantes vão definitivamente pertencer apenas ao reino dos mitos.
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Doenças
Malária. A malária estava associada ao garimpo nos anos 70 e 80. Hoje os maiores focos de dispersão da doença são os assentamentos do INCRA. A malária está associada à pobreza, à falta de saneamento e à degradação ambiental. É muito rara nos centros urbanos. É causada pelo protozoário Plasmodium e transmitida pelo mosquito Anopheles. Causa febre alta, calafrios e dores no corpo. Não existe vacina contra a Malária. A prevenção é feita evitando-se o ataque do mosquito através do uso de repelentes, calças compridas e mangas compridas, especialmente nas horas em que o mosquito é mais ativo (ao amanhecer e ao anoitecer). A profilaxia também pode ser feita com Larium (Mefloquina). A efetividade de Larium, assim como os efeitos colaterais por ele causado (ansiedade, insônia, pesadelos), são alvo de controvérsia entre autoridades de saúde. Para maiores informações sobre Larium consulte seu médico. Para maiores informações sobre malária, visite o site da ANVISA (www.anvisa.gov.br/paf/viajantes/malaria.htm)

Febre amarela. Doença rara transmitida por mosquito. Foram registrados 17 casos nas regiões norte e centro-oeste em 2000. Porém é obrigatório tomar vacina até 10 dias antes do embarque. A vacina tem validade de 10 anos. Vacine-se!
Leishmaniose. Transmitida pelo mosquito flebótomo. Causa feridas na pele. Têm cura, mas o melhor é evitá-la através da proteção contra a picada do mosquito.
Hepatite A. É contraída através da ingestão de água contaminada. Evite nadar em áreas urbanas e nunca beba água sem antes ter certeza de que é potável. Mas a melhor prevenção é mesmo a vacina. Vacine-se!
Diarréia. Tem causas variadas. A simples mudança de dieta pode causar diarréia (”diarréia dos viajantes”). Evite alimentos condimentados e oleosos. Açaí e outros frutos de palmeira são oleosos e podem causar diarréia quando ingeridos em excesso. Nunca beba água da torneira, desconfie de frutas e sucos vendidos nas ruas. Em caminhadas e acampamentos, ferva a água a ser consumida por pelo menos 10 minutos ou use cloro ou iodo como esterilizantes. Use o bom senso.
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Animais
Cobras. A Amazônia tem cobras venenosas como a surucucu e a jararaca. Elas têm hábitos noturnos e raramente são vistas durante o dia. Jibóias e sucuris (anacondas) são grandes, mas não-venenosas. Você muito dificilmente vai ver qualquer uma delas cruzando seu caminho. Como cuidado nunca é demais, preste atenção quando saltar sobre troncos caídos: cobras costumam se enrolar por ali. No caso (muito improvável) de picada, fique calmo (é difícil, mas tente). Não faça cortes ou perfurações sobre a área afetada. Não chupe a ferida com a boca. Procure um médico.
Aranhas, escorpiões e lacraias. A Amazônia tem as maiores aranhas do mundo: as caranguejeiras. Peludas e assustadoras, as caranguejeiras são no entanto inofensivas. Porém, não as toque pois seus pêlos podem causar irritações na pele. As demais espécies de aranhas da Amazônia tampouco oferecem risco. Escorpiões e lacraias são perigosos. Para evitar acidentes com escorpiões e lacraias, evite levantar troncos ou pedaços de madeira caídos. Picadas de escorpião e lacraias causam dor, mas não são fatais.
Onças. São mais lindas que perigosas. Os caboclos adoram contar estórias de ataques de onça, mas também contam estórias do curupira, do mapinguari, do boto encantado… Onças só atacam quando acuadas. Elas são difíceis de se ver e considere-se um privilegiado se por acaso avistar alguma.
Jacarés. Embora alguns os vejam como monstros pré-históricos, os jacarés são pacíficos e não vão lhe fazer mal algum desde que você não os moleste.
Piranhas. Outro mito da Amazônia. As piranhas atacam o homem apenas em raras condições: estação seca, escassez de alimentos, estímulo por presença de sangue na água. Informe-se sempre com pessoas locais sobre as condições de segurança antes de nadar.
Formigas. Estão por toda parte. É o animal mais comum da Amazônia. São centenas de espécies, mas bem poucas podem lhe fazer mal. Fique longe das tucandeiras: formigas negras e brilhantes, grandes e geralmente solitárias. Elas ferroam (assim como vespas) e a ferroada pode ser extremamente dolorida.
Vespas. São comuns e inconvenientes. Algumas fazem ninhos na parte de baixo de folhas ao longo das trilhas. Você vai saber disso quando esbarrar desprevenidamente em uma dessas folhas. As picadas são doloridas, mas as colônias são geralmente pequenas e portanto o número de picadas que você pode levar não porão em risco sua vida. ATENÇÃO: se você é alérgico à picadas de vespas e abelhas, comunique isso ao seu guia e tome cuidado redobrado. Tenha sempre pomadas (ex. Cremefenergan) e comprimidos antihistamínicos para o caso de reações alérgicas.
Arraias. Agora começamos a falar de animais realmente perigosos. Acidentes com arraias são mais comuns do que muita gente imagina. E a dor da ferroada é muito pior do que qualquer pessoa possa imaginar. Arraias são peixes achatados que vivem junto ao piso dos rios e lagos da Amazônia. Preferem fundos de lama e águas rasas. São muitíssimo comuns nas praias da Ilha de Marajó, onde se concentram nas águas rasas durante a maré baixa. Possuem sobre a cauda ferrões que injetam veneno em quem quer pise ou chegue perto de pisar sobre elas. O veneno causa dor lancinante e duradoura. Além disso, o veneno é proteolítico, ou seja, destrói proteínas. Isso faz com que a ferida leve muito tempo para cicatrizar. Feridas causadas por acidentes com arraia podem levar mais de 6 meses para cicatrizar. Não existe soro contra o veneno. A boa notícia é que é fácil evitá-las, basta permanecer fora d’água. Caso prefira entrar na água, caminhe sempre arrastando os pés para afugentá-las ao invés de pisar sobre elas. Evite fundos de lama e tome cuidado redobrado durante a maré baixa.
Candirú. Peixe parasita de outros peixes. Pequeno e alongado, é atraído por substâncias presentes na urina e é capaz de penetrar na uretra humana. Devido as suas barbatanas, que são voltadas para a parte de trás do corpo, o candirú não pode ser removido da uretra a não ser cirurgicamente. Acidentes são raríssimos mas, por via das dúvidas, NUNCA nade nú ou urine em rios e lagos que tenham candirú.
Carrapatos e micuins. Estes sim são mais prováveis de lhe perturbar. Causam coceiras e irritação na pele, especialmente em pessoas alérgicas. Para evitá-los recomenda-se o uso de calças compridas por dentro das meias e camisa por dentro das calças nas caminhadas. Alguns acreditam que talcos contendo enxofre (ex. Polvilho Antisséptico Granado) podem ajudar a prevenir o ataque de micuins. Para aliviar a coceira, use pomadas antihistamínicas (ex. Cremefenergan).
Mosquitos e piuns. Estes deveriam ser a sua maior preocupação (por mais irônico que isso possa parecer). Você VAI ser picado por mosquitos em algum ponto da sua viagem. Em algumas partes da Amazônia eles são chamados de “carapanã”. Carapanãs podem causar malária, leishmaniose, dengue e febre amarela. Evite-os usando mangas e calças compridas e repelente e permanecendo abrigado nas horas em que eles são mais ativos (i.e. amanhecer e anoitecer). Piuns e meruins são nomes regionais para pequenas moscas parentes dos borrachudos do litoral paulista. Mordem para se alimentar de sangue, deixando uma pequena e dolorida ferida. Piuns e meruins não transmitem doença, mas podem ser extremamente inconvenientes em certas partes da Amazônia (ex. Acre e manguezais da costa paraense). Carapanãs, piuns e meruins são atraídos pelo calor e pelos odores da pele. Porisso atacam com menor verocidade após o banho. Tome muito banho e tenha repelentes sempre à mão.
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Águas
Nadar. Seja cuidadoso. Rios e lagos podem esconder perigos para os incautos. Informe-se com os habitantes do local sobre os perigos existentes. Pergunte especificamente sobre a ocorrência de acidentes com arraias e a existência de correntezas fortes e troncos ou outros objetos submersos. Não nade sozinho. Não nada nu.
Passeios de barco. Use sempre colete salva-vidas, mesmo que você saiba nadar muito bem.
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Transportes
Terrestre. Automóveis e pavimento em más condições de conservação, carros puxados por cavalos, carrinhos de mão, bicicletas, pedestres e animais andando pelas ruas podem tornar o trânsito mais perigoso em Belém e Manaus do que em cidades do mesmo tamanho no sul do Brasil. Nas demais cidades da região, porém, a escassez de automovéis compensa os problemas citados acima, resultando em ruas bastante tranquilas. Ainda em Belém e Manaus, a falta de calçadas e o grande número de bicicletas (que jamais obedecem as regras de trânsito e portanto trafegam em todas as direções) põem em risco a segurança de pedestres. A Amazônia tem relativamente poucas estradas. Das estradas existentes, bem poucas são pavimentadas. As chuvas intensas e o solo argiloso da região favorecem a ocorrência de erosão. Buracos e MUITA lama fazem das viagens por terra na Amazônia verdadeiras aventuras. Como não se pode viajar rápido em tais estradas, o maior risco é o de ficar atolado.
Fluvial. Esse é o meio de transporte mais usual na região. Consequentemente, existe uma grande diversidade de embarcações, de canoas a remo a grandes navios e balsas de ferro. Acidentes são raros. Normas de segurança, porém, nem sempre são respeitadas, apesar da crescente fiscalização pela Capitania dos Portos. Alguns barcos de linha não possuem coletes salva-vidas em número suficiente e a superlotação é uma prática usual. Hotéis de selva sempre fornecem coletes para todos os passageiros.
Violência
Algumas cidades da Amazônia ficaram famosas nos anos 70 e 80 pela violência envolvendo fazendeiros, seringueiros, sem-terra e garimpeiros. Alguns exemplos de tais cidades são Altamira, Paragominas, Marabá, e Xapuri. Atualmente, essas cidades são bastante tranquilas. Além disso, ao contrário do que ocorre em cidades turísticas como o Rio de Janeiro ou Salvador, a violência urbana na Amazônia não envolve deliberadamente os turistas.
Manaus e Belém são cidades com mais de 1.5 milhão de habitantes. Como não poderia ser diferente, elas têm seus problemas típicos de cidade grande: possuem locais que devem ser evitados ou visitados com cuidado redobrado. Informe-se com seu guia ou funcionário do hotel sobre tais locais.
Recomendação geral: respeite sempre os costumes e a cultura dos locais visitados. E lembre-se que o primeiro passo para se poder respeitar uma cultura é conhecê-la. Informe-se!
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