Cleber Bergo
O Perfil do Empresário, desta edição especial de aniversário de oito anos do Jornal do Comércio destaca um empreendedor que acreditou no potencial de Itaituba, e só tem motivos para comemorar. Trata-se de Cleber Aparecido Bergo, do Supermercado do Vale, negócio que inaugurou em 31 de julho de 2007. Nesses seis anos de atividade, o empreendimento cresceu e se consolidou como um dos grandes do município, superando todas as adversidades iniciais, com as dificuldades de logística.
Cleber, que nasceu na cidade de Paranavaí, no Paraná, no dia 7 de agosto de 1973, é mais um paraense do grande contingente de pessoas daquele estado do Sul a ter migrado para Mato Grosso em busca de novas oportunidades. Chegou lá aos dezoito anos de idade, com espírito desbravador. E, de lá, até chegar a Itaituba houve um longo caminho a ser percorrido, sempre, com muito trabalho. Essa história rica de detalhes o Perfil do Empresário conta a seguir.
JC - Nomes dos pais e quantos irmãos...
Cleber - Elídio Bergo e Cleuza Maria Soares Bergo, ambos vivos. Somos três irmãos, todos homens. Eu sou o mais velho.
JC - Até quando viveu em Paranavaí?
Cleber - Eu era ainda muito novo, quando meu pai foi para Mato Grosso do Sul, em Naviraí, onde ele tinha umas terras. Se não me engano, a gente ficou lá por uns três anos. Depois, voltamos para o Paraná, para Umuarama, onde ele tinha uma plantação de café e ali eu passei toda minha juventude. JC - Como foi sua infância?
Cleber - Foi uma infância normal para uma criança da época. Morei na roça até os quinze anos, ajudando meu pai. Comparando com a situação dos meus filhos, nos dias de hoje, a gente levava uma vida bem humilde. Mas, meu pai, de origem italiana, (os avós vieram da Itália, da região de Veneza) nos deu lições de vida muito importantes, nos ensinando sempre a gastar menos do que a gente ganhava. Nós quase não sabíamos o que era diversão. Para você ter uma ideia, quando eu era solteiro, nunca fui a uma praia, coisa que só aconteceu depois que eu casei.
JC - Até que idade você viveu no Paraná?
Cleber - Até os dezoito anos.
JC - Onde você estudou?
Cleber - Fiz até o segundo grau lá no Paraná, mesmo.
JC - Qual era a atividade de seu pai?
Cleber - Meu pai mexeu com cultura de café até os anos 1990, que foi quando ele veio para Mato Grosso. Café e pecuária, sempre os dois juntos.
JC - E depois dos quinze anos?
Cleber - A gente se mudou para a cidade, para que eu e meus irmãos pudéssemos estudar. Meu pai passava a semana na propriedade, vindo em casa nos finais de semana. Às vezes, nem isso.
JC - Como se deu a mudança para Mato Grosso?
Cleber - Quem veio primeiro para Mato Grosso fui eu. Meu pai tinha uma propriedade em Juara, desde o ano em que nasci, em 1973. Havia um pessoal que cuidava dela. Com dezoito anos, portanto, em 1991, eu larguei tudo e decidi ir para lá. Eu disse para o pai, que estavam precisando de gente naquele estado e que eu queria ir para lá. Ele ainda ponderou que a propriedade do Paraná precisava de mim, mas, eu estava decidido e vim. Meti a mão na massa, pegando no machado para desbravar aquela terra.
Eu ajudei a formar a fazenda, no braço. Dois anos depois meu pai também mudou-se para Mato Grosso. No ano seguinte ele mudou para Cuiabá, para que meus irmãos tivessem oportunidade de estudar em escolas de boa qualidade. Naquele tempo meu pai também tinha uma propriedade na cidade de Barra do Garça, Mato Grosso do Sul. Ele ficava um pouco em Cuiabá, um pouco em Barra do Garça, enquanto eu ficava direto em Juara, na fazenda. Meu irmão do meio decidiu que queria ir para lá comigo e foi. Já meu irmão mais novo, depois de concluir o segundo grau, quis prestar vestibular para direito, tendo sido aprovado em Cuiabá, onde hoje em dia é advogado. Um ano depois meu pai vendeu a propriedade de Mato Grosso do Sul, vindo para Juara.
JC - Você meteu a mão na massa, mesmo...
Cleber - Eu peguei no pesado, mesmo, junto com a peãozada, derrubando mato para a fazenda. Hoje, a gente não pode falar em derrubar sob pena de ir preso. Mas, naquela época ainda podia. Havia bastante exploração de madeira naquele tempo, como mogno e cerejeira. Comprei um trator fiado para ajudar no serviço e paguei com mogno e cerejeira. No primeiro ano que eu e meu irmão trabalhamos juntos em Juara, nós fizemos 32 km de cerca, junto com os trabalhadores que a gente contratava.
JC - Depois de aberta a fazenda, você continuou mexendo somente com gado, até quando?
Cleber - Até conhecer a Dona Estela. Embora ela seja de Juara, eu a conheci em Cuiabá, onde ela fazia o segundo grau, no mesmo colégio no qual meu irmão mais novo estudava. Perguntei de onde ela era, respondendo que era de Juara. Eu disse que também morava lá e aí, a conversa progrediu. Ela tinha uns dezesseis anos. Prestou vestibular, mas, não passou, tendo retornado para nossa cidade, ocasião em que a gente começou a namorar. Mais ou menos um ano depois a gente casou. Eu tinha vinte e dois anos.
Depois que a gente casou, eu continuei trabalhando na fazenda, com meu pai. Naquele tempo, meu sogro, Júlio Martins, tinha um pequeno supermercado. Ele chamou a gente para dizer que estava saturado de mexer com comércio, perguntando se eu e a Estela não toparíamos tocar o negócio, já que o outro filho dele com a Dona Ingrid, o Ismael, não demonstrava ter aptidão para o comércio. Topamos o desafio, mesmo eu não tendo noção alguma daquilo.
Um ano e pouco depois, Seu Júlio disse que dali para frente, o que a gente fizesse estaria feito. Aí, ficamos nós, eu e a Estela tocando o supermercado e o Ismael mexendo com a pecuária. Ficamos lá até o ano de 2002, quando surgiu a oportunidade de vir para o Pará, para a cidade de Novo Progresso, que estava muito bem comentada na época. Meu cunhado Ismael foi ao Progresso no ano de 1999, gostou do que viu e comentou comigo que aquele era um bom lugar para a gente investir, convidando-me para enfrentar esse novo desafio. Ele tratou logo de comprar um terreno bom, por um preço bem em conta, a altura do km 1000. Em 2003 eu vim e comprei um terreno em Novo Progresso, do pai do ex-prefeito Nery dos Prazeres, no qual construímos um prédio para funcionar um supermercado.
Abrimos em 2004, tendo permanecido naquela cidade por quase quatro anos. Com isso, como não dava para cuidar dos dois, fechamos o comércio de Juara, direcionando nossos investimentos aqui para o Pará. Em 2007 a gente veio para cá, inaugurando o Supermercado Duvalle, na cidade de Itaituba. Compramos um terreno, que era do senhor Juarez da Jandaia. Antes, a gente fez uma pesquisa de mercado, por nossa iniciativa, mesmo, e constatamos que havia chance de dar certo. No final de 2006, para começo de 2007 a gente começou a construção do prédio, e no dia 31 de julho de 2007 a gente inaugurou o supermercado.
JC - A construção foi acompanhada mais de perto pelo Ismael...
Cleber - Foi isso mesmo. O Ismael não é meu irmão de sangue, mas, eu o considero como um irmão. Foi ele quem nos incentivou a vir para cá e nós devemos isso a ele. Nós somos sócios até hoje. Já dividimos boa parte, porque os filhos estão crescendo, mas, ainda temos sociedade em cerca de 30% do nosso patrimônio. Ele é uma pessoa muito determinada, que não desanima em momento algum, e puxa a gente para cima. Mesmo nas horas mais difíceis ele não perde o ânimo. A gente veio para cá com poucos recursos. Não podíamos errar. Tem gente que pensa que a gente chegou nadando em dinheiro, mas, não foi nada disso.
JC - Vocês não tinham o direito de errar, e deu certo...
JC - É verdade. A gente não podia errar, e felizmente deu tudo certo. Nós só temos a agradecer por tudo. Hoje, sou um homem de quarenta anos, já tendo alcançado os objetivos que gostaria de alcançar. Isso não significa que eu não tenha novos objetivos, mas, refiro-me aos objetivos que eu, minha esposa Estela e o Ismael planejamos, nós conseguimos alcançar.
JC - O Supermercado Duvalle cresceu ao longo desses seis anos?
Cleber - Sim, cresceu bastante. Tem gente que fala mal do Pará, mas, para nós, este estado tem sido muito bom, muito generoso. Quando nós começamos, éramos bem pequenos, em relação ao que somos hoje. Além do crescimento do negócio Supermercado Duvalle, a gente já aumentou o terreno contíguo ao nosso prédio, tendo adquirido alguns terrenos ao lado para crescimento futuro.
JC - Executar a logística para manter um supermercado como o Duvalle, sempre abastecido, é muito complicado?
Cleber - Já foi muito complicado. Desde 2004, quando a gente abriu o supermercado em Novo Progresso, até hoje, acho que tombaram uns quinze caminhões com mercadoria. Uns eram caminhões da empresa, outros, caminhões de terceiros. Houve caminhão que caiu com ponte e tudo, perda total. O último caminhão que tombou faz uns três anos, antes de começar o asfaltamento da BR 163. Hoje está bem mais tranquilo. Os problemas para renovação do estoque diminuíram bastante. Antes, uma mercadoria que saía da Ceasa, em São Paulo, demorava de sete a dez dias para chegar a aqui, e quando chegava, pelo menos metade da carga já estava perdida.
JC - Quais são os planos do empresário Cleber Bergo para o futuro próximo?
Cleber - Formar os nossos dois filhos. O Diego, que é o mais velho (17 anos) é o que está mais encaminhado; estruturar cada vez mais o nosso negócio, pois a cidade está ficando cada vez mais exigente. Com a chegada desses novos investimentos. precisamos estar preparados, oferecendo mais opções, disponibilizando cada vez mais, novos itens para os clientes, que vão ficando mais exigentes, mais seletivos. Temos que nos reciclar cada vez mais.
JC - Quantos itens tem hoje o Supermercado Duvalle?
Cleber - Em torno de vinte e seis mil itens. Eu acho que dá para a gente chegar a uns trinta mil itens.
JC - Essa buraqueira na Transamazônica está atrapalhando o seu negócio?
Cleber - Muito, está atrapalhando demais. Não apenas a mim, mas, a todos os negócios estabelecidos ao longo desta via. Não sei qual é o problema que está havendo para que isso não seja resolvido, e eu não quero aqui julgar ninguém, mas, a verdade é que alguém tem que fazer alguma coisa.
JC - Você tem medo da concorrência?
Cleber - Da concorrência leal, de jeito nenhum! O Sol nasce para todos. Há espaço para todo mundo. O cliente que é meu, é do outro também, e cada um se firma pelo seu trabalho. Quando o Supermercado Duvalle chegou, e logo depois o Tradição, o comentário era de que os outros iriam fechar. Não só não fecharam, como melhoraram bastante. O Alvorada não fechou não porque nós abrimos. Foram outras as razões.
Agora mesmo está para se instalar mais um, do empresário Castanho, de Novo Progresso, que vai funcionar no antigo Alvorada da Travessa 13 de Maio. O Castanho é meu amigo. Nós até trocamos umas ideias há poucos dias. Ele perguntou se eu não queria vender o Supermercado Duvalle, ao que respondi que no momento não estou interessado no assunto. Então, ele perguntou se eu conhecia algum ponto que estivesse disponível. No momento que a gente conversou, o antigo prédio do Liberdade ainda estava fechado. Então eu disse ao Castanho, que havia aquele, e mais o do Alvorada da 13 de Maio, explicando a ele os detalhes de cada um dos pontos. Ele optou pelo antigo Alvorada. Somos concorrentes, mas, somos amigos, há espaço para todos.
JC - Qual é sua principal dificuldade para tocar o supermercado, atualmente?
Cleber - A gente continua enfrentando muitos problemas por falta de mão de obra qualificada em Itaituba. A gente precisa de uma presença mais forte de órgãos como o Sebrae, Sesc, e outros que capacitem as pessoas. Não sei quem pode nos ajudar, mas, precisamos fazer alguma coisa, pois tem muita gente precisando trabalhar, mas, falta qualificação. Com isso, terminam sendo importados trabalhadores de fora. Essa reclamação não é só minha. A Gazin, por exemplo, eu conversei com o dono da empresa, recentemente, e ele se queixou que essa é a principal dificuldade que ele está enfrentando. Ele gostaria que todos os seus funcionários fossem daqui, até a gerência, mas, falta gente qualificada. Ele, e outros, estão tendo que trazer gente de fora. E nós temos potencial aqui em Itaituba. Eu tenho funcionários daqui da cidade, que ganham de R$ 4 mil a R$ 6 mil reais, e é gente preparada aqui mesmo, gente que se paga pelo excelente serviço que presta à empresa. Esse pessoal produz o correspondente ao seu salário.
JC - Você tem uma grande companheira, Estela, que além de sua esposa, está ao seu lado na administração do supermercado...
Cleber - Não tenho nem palavras para descrever a importância da Estela na minha vida. É a mãe dos meus filhos, é uma grande companheira de trabalho, que tem estado ao meu lado em todos os momentos, bons e difíceis. Estamos juntos no dia a dia, enfrentamos todas as dificuldades juntos. Eu e ela, um complementa o outro.
JC - O que você vislumbra par ao futuro de Itaituba?
Cleber - Com a chegada desses investimentos, com esses empreendimentos que estão acontecendo e com os que estão previstos, Itaituba vai dar um salto muito grande. O quanto isso vai melhorar nossa cidade vai depender muito da administração municipal. No momento em que os investidores estão vindo para cá, a gente precisa saber tirar partido disso em favor do município, e me parece que isso ainda não está acontecendo. Não estamos tendo a contrapartida esperada. Os governantes deveriam apertar mais um pouco nesse sentido. Vamos tentar conseguir o que for possível de empresas muito grandes, até multinacionais que estão chegando aqui.
JC - Falou-se há uns dois anos, que você poderia lançar-se candidato a prefeito de Itaituba. Sabe-se que você não é filiado a partido algum. Apesar disso, você pensou nessa possibilidade.
Cleber - Nunca, em momento algum eu cogitei isso. Não tive, nem tenho intenção alguma nesse sentido. Houve, de fato, alguns comentários, aconteceram algumas sondagens, mas, eu não dei corda, mesmo porque como disse, nunca tive nenhuma intenção em concorrer a nenhum cargo político. Minha vocação é para o comércio, não, para a política.Publicado na edição especial de aniversário de 8 anos do Jornal do Comércio, que está circulando
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